quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Olá, pessoal. Nesta semana Josilane e eu promovemos uma atividade de leitura e argumentação que consideramos proveitosa. Levamos as turmas para a sala de informática do José Lins e, com data show, analisamos dois textos divergentes sobre um tema polêmico: o projeto de lei do deputado Aldo Rebelo que proíbe os estrangeirismos. Um, do próprio deputado, e o outro, do professor de português Sérgio Nogueira. Aproveitamos para, a partir de exemplos do texto, trabalhar conteúdos da gramática, como a queda do trema em "linguística" e concordância nominal em "Nosso idioma está sendo desfigurado por um excesso de estrangeirismos incorporados ao vocabulário de forma estranha à grafia e à pronúncia clássicas do português".

Seguem os textos:

O idioma está sendo deturpado

Aldo Rebelo

A desnacionalização linguística pode ser vista a olho nu nas ruas de nossas cidades. A minha intenção ao propor esse projeto foi evitar a descaracterização da língua portuguesa. Nosso idioma está sendo desfigurado por um excesso de estrangeirismos incorporados ao vocabulário de forma estranha à grafia e à pronúncia clássicas do português.
Quem sai às ruas, principalmente de uma grande cidade como a de São Paulo ou Rio de Janeiro, corre o risco de precisar de dicionário bilíngue para entender o que dizem as faixas, os cartazes, os rótulos de produtos. Os jornais e a publicidade estão cheios de palavras e expressões incompreensíveis para o povo brasileiro. O problema é ostensivo nos shopping centers, a começar do nome desses centros comerciais.
Por que usar Sale para liquidação? Delivery para entrega em domicílio? Self-service para auto-serviço? Estão em uso corrente expressões desnecessárias para a comunicação do dia-a-dia. Desnecessárias porque têm correlatos antigos em português, não designam neologismos que atualizariam o idioma.
Temos uma língua bonita, opulenta, com muitos recursos léxicos. Quem usa teen para dizer adolescente, logo, logo vai falar soccer no lugar de futebol.
O povo brasileiro não tem obrigação de conhecer palavras ou idiomas estrangeiros. O poliglotismo é uma virtude que todos almejamos, mas nunca em prejuízo da língua materna em que fomos alfabetizados e pela qual expressamos melhor os nossos sentimentos.
(Jornal do Brasil, Caderno Política, 1º de abril, 2001, p.4)


Nada de radicalismos

Sérgio Nogueira Duarte

Por muito tempo, em nossas escolas, os professores ensinavam como "erro" o uso de galicismos. Era proibido falar ou escrever abajur, chofer, detalhe... Éramos obrigados a substituir por quebra-luz, motorista e pormenor. E o tempo provou que estávamos enganados. Hoje todos nós usamos – sem culpa ou pecado – abajur, chofer e detalhe. temos até um belíssimo réveillon, no sua forma original.
Agora os inimigos são os anglicismos. Palavras e expressões inglesas infestam e poluem a nossa fala. Temos um festival de beach, play off, delivery, shopping, brainstorming, software, marketing e tantos outros.
A presença de termos estrangeiros no uso diário de uma língua não é crime, nem sinal de fraqueza. Ao contrário, é sinal de vitalidade. Só as línguas vivas têm essa capacidade de enriquecimento. A forte presença do inglês na língua portuguesa é reflexo da globalização, do imperialismo econômico, do desenvolvimento tecnológico americano etc. Poderíamos citar muitas outras causas, mas há uma em espacial que merece destaque: a paixão do brasileiro em geral pelas "coisas estrangeiras". Nós adoramos a grife, o carro importado, a palavra estrangeira. Tudo dá status.
É, portanto, um problema muito mais cultural do que linguístico.
Valorizar a língua portuguesa, sim; fechar as portas, não.
[...]
É contra os exageros, contra os modismos, que devemos lutar. A nossa crítica deve concentrar-se no ridículo, no "desnecessário". Para que sale, se sempre vendemos? Por que startar, se podemos começar, iniciar, principiar? Se podemos entregar em domicílio, para que serve o ridículo delivery?
O modismo a ser criticado é esta lista imensa de palavras e expressões inglesas para as quais a nossa língua já está bem provida: beach soccer (futebol de areia), paper (documento), printar (imprimir)...
O aportuguesamento de termos estrangeiros também é uma boa saída. É só lembrar o futebol, o blecaute, o estresse, o balé, o filé, o chope, o espaguete...
E o que fazer com o dumping? Não conseguimos aportuguesar e não há em português uma palavra para traduzi-la: "é quando uma empresa faz preços abaixo do mercado para quebrar a concorrência". É demais. Nestas horas, o termo estrangeiro é bem-vindo, pois enriquece a língua. E há outros bons exemplos: ranking, show, marketing, impeachment. São palavras devidamente incorporadas à nossa língua cotidiana.
Portanto, nada de radicalismos. É importante valorizar a língua portuguesa, mas nada de purismo e xenofobia.

(Veredas. Revista do Centro Cultural do Banco do Brasil, n. 66, junho, 2001, p. 42)

2 comentários:

Anônimo disse...

nd ver o meu trabalho

Anônimo disse...

Obrigada! Tinha perdido o texto ''O idioma está sendo deturpado'' e encontrei ele aqui para escrever novamente

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